Eu menti pra você.
E não foi uma vez. Foram várias.
Algumas vezes foi porque eu estava cansada, e você, num pique maratonista tântrico, não saía de cima de mim. Outras, porque eu simplesmente queria te fazer feliz, ainda que isso significasse me ofuscar pra deixar você brilhar. E, por fim, teve também aqueles dias quando eu quis apenas me certificar de que você é um tosco que acredita em tudo, inclusive numa mulher fingindo o orgasmo com a cara mais falsa do mundo.
E, em todas estas ocasiões, fosse o motivo que fosse, uma única coisa dominava meu pensamento – e ela não era o Ryan Gosling pelado. Sério, como você ainda cai nessa?
Seu papel era me flagrar e ainda meter o dedo na minha cara dizendo “ahá, eu sabia!”.
Fico boba com o quanto tem homem que acha mesmo que aquela moça arregaçada debaixo dele está gozando. Rapaz, aquilo ali é um ataque epilético, um engasgo, uma possessão demoníaca. Exu caveirinha desceu na menina e só vai embora se você der pra ele um charuto e uma cachaça Busca Vida.
Ela pode até estar feliz, claro, sexo é bom sempre, até mesmo quando é ruim. Tipo pizza.
Mas felicidade não é garantia de olhinho virando, boca salivando, coração disparado.
Aliás, taí uma ótima dica pra você, amador, perceber se é por um orgasmo que aquela garota está passando ou se os sinais apenas te confundiram, porque na verdade é preciso que você chame o SAMU antes que ela morra de congestão. Cheque os batimentos cardíacos. Das duas, uma: estão rápidos? Ótimo, ela gozou. Tá tudo igual? É, playboy, perdeu.
Agora, mais fácil que virar investigador sexual da polícia técnica, é você fazer o seu direitinho pra garantir que as chances de ela fingir – seja pra te agradar, te apressar ou fazer de bobo – diminuam.
Tente, por exemplo, não levar uma hora e meia naquele entra e sai interminável. Tente não assá-la nem esfolá-la. Evitar a técnica do bife na frigideira, quando você deixa a mocinha tonta de tanto que gira dobra empurra puxa vira e vira e vira a coitada dum lado pro outro, também é recomendável. Abandone a cara forçada de garanhão tarado e aposte em algo mais pessoal e verdadeiro, que demonstre seu real nível de envolvimento com a pessoa que está lá, de pernas e coração abertos pra você.
E, se ainda assim você desconfiar que a gemedeira não é à vera, dê o troco.
Termine o ato com classe, sorria, retire a camisinha vazia calmamente e, para surpresa da plateia, não enrole para jogar no lixo. Ao invés disso, bote-a na boca (sem nojo, vai, que o pinto é seu), sopre até enchê-la feito um balão e... BAM, estoure com força e alegria. Agora diga assim: “Bem-vinda ao circo, palhaça”. Depois me escreve contando o que aconteceu.